Foi publicada esta sexta-feira, no jornal i, uma entrevista com o deputado do PS Miguel Vale de Almeida (activista gay e militante da ILGA Portugal).
Vem confirmar duas coisas. Que Vale de Almeida apoia a nova discriminação legal contra gays e lésbicas (impossibilidade de adoptar crianças). E que os seis dogmas pró-casamento que aqui se denunciaram têm toda a razão de ser.
Vale a pena comentar duas passagens da entrevista.
P: Porque é que há gays que são contra o acesso ao casamento?
R: A coisa mais importante de se dizer é que os gays são como todas as outras pessoas. Há pessoas absolutamente conservadoras, reaccionárias, com fraca auto-estima e até homofóbicas. Auto-homofóbicas. Acham que não pertencem a esse universo.
Classificar como conservadores e auto-homofóbicos os homossexuais que são contra o casamento é uma argumentação desesperada e perigosa. Dizer que têm fraca auto-estima é risível. O escritor americano Gore Vidal, gay assumido há décadas, ou a filósofa americana Camille Paglia, lésbica assumida, têm-se pronunciado contra o casamento gay (como provam as citações deles incluídas na barra lateral deste blogue). Hoje fala-se em homofobia ou auto-homofobia, como se o pensamento livre fosse proibido. Nos regimes totalitários falava-se em traição à pátria, traição à revolução ou, no pior dos casos, em loucura: os dissidentes políticos teriam perdido as faculdades intelectuais. É a velha lógica do anátema.
P: Há gays homofóbicos como há mulheres machistas?
R: Sem dúvida. Pelas suas convicções ideológicas ou religiosas, acham que não merecem. Depois há pessoas que vivem na fantasia de uma vida alternativa, a de que a sua orientação sexual é de alguma forma uma marca alternativa em termos de perfil de vida e de sociedade. Coincidem muito com alguma forma de radicalismo teórico que vê a identidade gay e lésbica uma transformação da sociedade. Eu não vejo as coisas assim. Sou muito liberal e acho que cada um e cada uma faz o que quer. Mas acho que até essas pessoas perceberam que podem fazer o que quiserem nas suas vidas desde que na lei sejam reconhecidos como cidadãos iguais aos outros.
Ao falarem do casamento gay com tamanha fúria, os seus defensores já deram início à guerra entre homossexuais normais (normalizados) e homossexuais não canónicos. Vale de Almeida traça a linha divisória, estabelece qual o lado certo para se estar, menoriza outras opiniões. É uma estratégia integrista. E vai ter consequências sociais quando o casamento gay for realidade.
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