17 de novembro de 2009

Comentários ao "Prós e Contras"

O "Prós e Contras", da RTP1, debateu esta segunda-feira a possibilidade de referendar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Primeira Parte
23h00: Mais uma vez, o debate sobre o casamento gay é bipolarizado: os conservadores de direita (contra o casamento gay) e os do centro-esquerda (favoráveis).

23h02: O ministro Jorge Lacão confirma, pela primeira vez de forma clara, que a adopção de crianças por casais gay casados não será contemplada na proposta do PS de alteração do actual Código Civil.

23h20: Manuel João Ramos, da Plataforma Cidadania e Casamento (pró-referendo), levanta uma questão decisiva: e a poligamia?

23h21: O deputado Miguel Vale de Almeida: "Não respondo à questão da poligamia porque não é um argumento". Mais:
"Temos dois seres humanos que vivem exactamente no mesmo tipo de expectativas culturais em relação aos projectos de vida [que os heterossexuais]". A conjugalidade é o âmago da identidade dos homossexuais, acrescenta o deputado. Ideologia. Ideologia. Ideologia.

23h27: A deputada Heloísa Apolónia diz que "felizmente o casamento deixou de subjugar as mulheres". Os números da violência doméstica desmentem-na [como se comprava aqui e aqui].

23h36: Lacão diz que a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia condena a homofobia. Só não diz que o mesmo documento não tem uma única palavra sobre o casamento gay [como se comprova aqui].

23h51: Referendo ao casamento gay seria um referendo à homossexualidade, diz Vale de Almeida. Ideologia. Ideologia. Ideologia.


Segunda Parte
00h15: A jurista Isabel Moreira insiste na visão meramente legalista. É a área dela, mas isso não chega para falar do casamento gay.

00h50: A psicóloga Gabriela Moita
diz que "quaisquer duas pessoas que sentem amor uma pela outra têm o direito de ter os mesmos direitos que as pessoas heterossexuais". De acordo, mas para isso não deveriam precisar de um contrato chamado casamento [como já se escreveu aqui].

CONCLUSÃO: Mais uma vez, um debate legalista. É a forma mais confortável de discutir o tema e a que favorece os defensores do casamento. Quem quer saber do referendo ao casamento gay? Essa é a questão legalista e politiqueira. A questão central é outra: a forma como o casamento gay vai criar no seio dos gays e das lésbicas uma normalidade e uma marginalidade conjugais, que felizmente hoje não existem.

8 comentários:

  1. Uma normalidade e uma marginalidade conjugais que efectivamente não existem - só existe por enquanto a marginalidade!
    É de facto essa a questão.
    Também há uma normalidade e uma marginalidade no casamento entre heterossexuais. Mas no caso deles é consoante as escolhas, não por imposição!
    E porque é que um casal heterossexual, quer tenha ou não tenha filhos, legítimos ou ilegítimos, há-de poder optar pelo casamento e um casal homossexual não?
    Confesse, na sua opinião os homossexuais não merecem ter direitos 100% iguais aos dos heterossexuais pois não? E porquê? Acha que não merecemos? Somos cidadãos de segunda? Temos pecados a expurgar? Ou será porque a liberdade mete medo, e porque é mais facil fazer de conta que não se é gay e andar misturado com os heteros, a comunicar por códigos subtis ou através da Internet?
    A possibilidade de aceder ao casamento não vai impedir ninguém de ter a sua vida marginal, ou mesmo oculta, se for essa a sua escolha. Mas é bom que seja por escolha e não por necessidade!
    E já agora, a questão legalista: enquanto que o casamento é um direito aberto a "todos" - que é a palavra que está na Constituição, e que não deixa lugar a dúvidas nem a interpretações - a adopção não é apresentada na legislação como um direito, mas como uma possibilidade sujeita a muitas, muitas regras, em nome do superior interesse da criança. E de acordo com estas regras muito estritas, nem sequer todos os casais heterossexuais podem adoptar. Espero que quando forem retiradas do Código Civil as palavras "de sexo diferente", as comissões de avaliação dos candidatos a adoptantes continuem a fazer o seu trabalho com o mesmo rigor, mas sem preconceitos nem discriminações.
    Último ponto: como classificaria a sua ideologia? Ou acha que não tem?

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  2. Jorge: qual a minha ideologia em relação ao casamento gay? Muito fácil e nada original: chama-se pós-feminismo radical. É a mesma das pessoas não homofóbicas que estão contra o casamento e que tenho citado neste blogue.

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  3. Pós-feminismo radical? Never heard!!! Ciao!

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  4. Caro bruno, defende o fim do casamento entre heteros? Só assim posso compreender a sua posição, caso contrário aconselho uma boa psi. Respeitosos cumprimentos

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  5. Anónimo: se ler com atenção o 'post' "Casamento gay é uma quimera reaccionária", onde cito Camille Paglia, encontrará resposta à sua pergunta: "Uma visão de esquerda autêntica (como nos anos 1960) iria desafiar todo o conceito do casamento."

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  6. Caro Bruno, não considera injusto termos de esperar por essa sua utopia sem igualdade? Explico sem citar, também prefiro o fim do casamento, no entanto tal não considero prioritário, por isso considero mais próximo da liberdade que procuro com o fim do casamento, a igualdade de acesso ao mesmo. Anonimo porque não confio em jornalistas e vivo da sua bondade

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  7. Anónimo: isso a que chama "utopia sem igualdade" não é uma ideia minha (não fui eu que inventei a rejeição do casamento) e não é utopia nenhuma. Os homossexuais já vivem nisso a que chama utopia: auto-determinam o modelo de conjugalidade em que querem viver, não têm modelos. Só precisavam de reivindicar os mesmos benefícios de que gozam os casados (não por via da alteração do estado civil).

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  8. Aí e que erra, não auto-determinam, trata-se de uma imposição. Repare, concordo a título pessoal consigo, sou gay e acho o casamento algo demasiado estatal, no entanto prefiro lutar pela liberdade de escolha. Não paternalize, há mais gente que lê .Cumprimentos

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