Muito interessante esta passagem da entrevista dada à revista Tabu (jornal Sol, 11 de Dezembro) pelo deputado independente pelo PS Miguel Vale de Almeida:
Tanto quanto sei, é a primeira vez que Vale de Almeida traça em público e de forma tão objectiva as diferenças existentes entre as várias associações LGBT portuguesas.
A distinção (independentemente da conexão política que ele faz) vem em auxílio de uma ideia central deste blogue: nem todos os homossexuais, mesmo os activistas, apoiam a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Há uns dois meses, durante um curso livre sobre feminismo, organizado pela associação UMAR na Biblioteca Municipal Central, em Lisboa, ouvi uma professora da Universidade Autónoma de Lisboa, Cláudia Álvares, apresentar resultados preliminares de um estudo sobre o tratamento dado pela imprensa escrita portuguesa às temáticas feministas, nas quais entra o casamento gay.
O estudo (análise de conteúdo), que deverá ser publicado em 2010, estabelece duas categorias: "feminismo liberal" e "feminismo radical". (O primeiro, é aquele a que Vale de Almeida se refere como sendo o da ILGA. O segundo, será o das Panteras Rosa e outras associações.) Conclusão: na Visão, na Sábado, no 24 Horas, no Correio da Manhã, no Diário de Notícias e no Público o feminismo liberal (aquele que defende o casamento gay) está muito mais bem representado em quantidade de notícias do que o feminismo radical.
Ora, a defesa do casamento gay não é um objectivo de todos os gays e lésbicas, porque há gays e lésbicas que não se querem casar e há gays e lésbicas que são contra a legalização do casamento gay.
Como prova o estudo da Autónoma, a opinião pública portuguesa, via imprensa escrita, só está a ter acesso a uma parte da verdade. É bom que isto se saiba e é bom ver que um não apoiante do feminismo radical, como Vale de Almeida, não tem problemas em ajudar a clarificar as coisas.
"O movimento LGBT é muito diversificado. E ainda bem que é diversificado, porque os gays e as lésbicas são de todas as classes sociais, ideologias políticas, zonas do país, idades, etc. O movimento tem linhas de separação muito fortes. Uma das partes é mais liberal, está mais atinada com a ideia das iniciativas legislativas. Diria que é mais ou menos representado pela associação ILGA Portugal (a que pertenço como sócio e portanto tenho uma declaração de interesses a ser dita) e pela Rede Ex-Aequo.
(...) Existe todo um outro segmento absolutamente respeitável, em que pontuariam as Panteras Rosa e alguns pequenos grupos, originalmente em torno do Bloco de Esquerda. Estes têm uma visão muito mais baseada numa teoria crítica sobre a sexualidade, que eu não desprezo e que também tenho enquanto teórico, e que faz com que tudo o que tenha a ver com iniciativa legislativa, compromisso político e a própria ideia de casamento lhes pareça demasiado conservador e pouco interessante".
A distinção (independentemente da conexão política que ele faz) vem em auxílio de uma ideia central deste blogue: nem todos os homossexuais, mesmo os activistas, apoiam a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Há uns dois meses, durante um curso livre sobre feminismo, organizado pela associação UMAR na Biblioteca Municipal Central, em Lisboa, ouvi uma professora da Universidade Autónoma de Lisboa, Cláudia Álvares, apresentar resultados preliminares de um estudo sobre o tratamento dado pela imprensa escrita portuguesa às temáticas feministas, nas quais entra o casamento gay.
O estudo (análise de conteúdo), que deverá ser publicado em 2010, estabelece duas categorias: "feminismo liberal" e "feminismo radical". (O primeiro, é aquele a que Vale de Almeida se refere como sendo o da ILGA. O segundo, será o das Panteras Rosa e outras associações.) Conclusão: na Visão, na Sábado, no 24 Horas, no Correio da Manhã, no Diário de Notícias e no Público o feminismo liberal (aquele que defende o casamento gay) está muito mais bem representado em quantidade de notícias do que o feminismo radical.
Ora, a defesa do casamento gay não é um objectivo de todos os gays e lésbicas, porque há gays e lésbicas que não se querem casar e há gays e lésbicas que são contra a legalização do casamento gay.
Como prova o estudo da Autónoma, a opinião pública portuguesa, via imprensa escrita, só está a ter acesso a uma parte da verdade. É bom que isto se saiba e é bom ver que um não apoiante do feminismo radical, como Vale de Almeida, não tem problemas em ajudar a clarificar as coisas.
Olá Bruno, em primeiro lugar parabéns por este excelente blog, que marca diferença e quebra consensos que é necessário quebrar. Creio que estamos de acordo quanto a ideias, apesar de uma diferença estratégica que terá a ver com as responsabilidades que tenho de intervir nesta matéria. Mas não me parecem importantes.
ResponderEliminarE o comentário: o que acho mesmo espantoso é que um deputado que quer manter uma aura de activista, regresse a tácticas que me fazem recordar a política de terra queimada da Opus Gay há dez anos atrás: admite que o movimento LGBT é diverso, mas depois desclassifica todo o movimento associativo que não corresponde ao seu sector com a caracterização de "pequenos movimento" e "com origem no Bloco de Esquerda". Ou seja, são todos pequenos grupos e todos do BE, menos os meus. É uma falsidade que desclassifica o conjunto do movimento, que na verdade não reconhece a sua diversidade, e é inacreditável, fica-lhe mal, revela uma desonestidade intelectual enorme e uma falta de lealdade clara para com os/as muitos/as activistas com quem trabalhou ao longo dos anos, e que não, não tiveram origem no Bloco de Esquerda.
Isto já para não questionar a "grandeza" da associação ILGA Portugal, que se diz "a maior" associação LGBT do País, mas seria curioso verificar isso na realidade. Oh, se seria. Não é que seja importante, mas revela práticas políticas e tentações hegemónicas que só têm prejudicado o movimento.
ResponderEliminar