Quando se fala aqui em defensores do casamento gay é, antes do mais, da associação ILGA Portugal que se está a falar. A causa é hoje apoiada por pessoas independentes do activismo gay, muitas das quais nem homossexuais são.
Mas foi a ILGA que as conquistou para o tema e instalou no espaço público português a questão do casamento gay. Sem se aperceber disso, parte substancial da opinião publicada, homo ou heterossexual, tem vindo a reproduzir um a um os argumentos da ILGA, como se não houvesse outra maneira de pensar o assunto.
Há pelo menos 14 associações portuguesas que de forma directa ou indirecta lidam com direitos dos homossexuais e questões de igualdade e identidade sexual e de género. Destas, só a ILGA está verdadeiramente empenhada na defesa do casamento homossexual. Foi a ILGA que conseguiu convencer a Juventude Socialista (JS) e, através dela, o Governo Sócrates, da necessidade de mudar o actual Código Civil. Veja-se esta passagem de uma entrevista, em Agosto do ano passado, com o líder da JS, Duarte Cordeiro:
Tanto quanto se sabe, a ideia [do casamento gay] não surgiu no interior da JS, foi uma cedência à pressão do chamado lobby gay, associações, sobretudo. É verdade?João Carlos Louçã, dirigente da Panteras Rosa, fez a denúncia: “[O casamento homossexual] é fundamental para a ILGA desde há uns cinco anos, mas para as Panteras Rosa nem por isso. (…) O facto de os homossexuais não se poderem casar é uma discriminação legal cuja abolição é importante, mas mesmo que isso seja possível nunca me casarei com outro homem. O casamento é um modelo monogâmico da sociedade patriarcal, um modelo conservador de família, em grande medida responsável por uma cultura de submissão da mulher. Nós não podemos fugir a esta discussão em nome do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Prefiro olhar para as pessoas, individualmente, como portadoras de direitos, e não para os casais”.
Acho isso perfeitamente natural. A JS ouve a sociedade civil e a partir disso, de acordo com o que diz respeito à nossa identidade, assumimos determinadas posições políticas. O casamento entre pessoas do mesmo sexo tem a ver com algo, suscitado ou não pela sociedade civil, que quisemos assumir.
Outro dirigente das Panteras Rosa, Sérgio Vitorino, (ex-militante da ILGA) apresenta uma visão mais moderada do que João Carlos Louçã, concordando com o casamento homossexual, mas não com a estratégia seguida pela ILGA, estratégia essa que tem implicado, segundo ele, o apagamento de questões como a homoparentalidade (adopção, reprodução assistida, filhos biológicos, etc.).
Sérgio Vitorino em discurso directo: “Oiço dizer a alguns activistas que é melhor não falar sobre este assunto [homoparentalidade], porque pode ser que ele passe. Isso tem sido argumentado ad nauseam nas reuniões das várias associações. Ora, um tema como a homoparentalidade não se discute pela calada. Sei que é um tema difícil e não obtém a mesma simpatia popular que a ideia do casamento, mas não se pode recusar um debate público sobre isto."
Perguntado sobre a razão do protagonismo da ILGA neste assunto, Sérgio Vitorino concedeu: “Pelo nicho que escolheu. Quis ser a associação institucional, mais vocacionada para debater com os partidos políticos e com o Estado.”
Tenho tantas meias em casa para coser! porque não ficar em casa a tratar dos buracos nas meias, em vez de me preocupar com os buracos nas meias dos outros.
ResponderEliminarVive e deixa viver!
olha, lá, mas não é da ilga aquele livrinho verde sobre as famílias, que saiba a única coisa sobre homoparentalidade escrita em Portugal? que trabalho fizeram as panteras cor-de-rosa neste domínio?
ResponderEliminarJosé: esse é o tipo de intolerância que alguns defensores do casamento gay praticam. Não vale a pena dizer mais nada.
ResponderEliminarSandro: esse livrinho verde, "As Famílias Que Somos", publicado pela ILGA em Junho de 2008, é de facto sobre o casamento gay e a homoparentalidade. Atrevo-me a dizer que foi publicado quando os objectivos da ILGA e os do PS ainda não se tinham casado. A exclusão do tema homoparetalidade do debate sobre o casamento foi-se sedimentando já depois de esse livro sair (é o que concluo do que me tem sido dito por vários activistas gay, não apenas os das Panteras Rosa).
ah, bom deve ser por isso que no arraial Pride houve uma actividade dedicada a crianças e (fui entretanto confirmar!) é a ilga-portugal que tem livros para crianças. Porque só fala de casamento. Sabe, li os seus posts por acaso e de mente aberta, mas vejo que é pouco rigoroso no que afirma!
ResponderEliminarSandro: fica então por explicar o silêncio absoluto em relação à notícia da semana passada de que o PS não vai permitir a adopção aos gays casados.
ResponderEliminarAqui: http://www.tvi24.iol.pt/politica/ps-casamento-gay-adopcao-homossexual-tvi24/1100504-4072.html